Por que a “marcação a mercado” é tão defendida pelos técnicos e neoliberais?

  • 9 de julho de 2024

A “marcação a mercado” é um princípio que precifica os ativos diariamente, conforme a conjuntura econômica e as expectativas dos agentes do mercado. Ou seja, o valor dos papéis varia de acordo com especulações de investidores ou com situações da economia do País, tornando a renda fixa volátil.

Para os ativos em fundos de renda fixa dos bancos ou dos planos de previdência abertos, esse princípio faz sentido, pois os clientes podem resgatar seus valores a qualquer momento. Esses investimentos de curto ou médio prazo precisam ter liquidez. Nessas situações, os riscos de mercado recaem sobre os clientes, enquanto bancos e gestores de recursos cobram altas taxas de administração e nunca perdem.

No entanto, os investimentos dos fundos de pensão têm características diferentes, pois são de longo prazo e os compromissos de pagamento são conhecidos. Os gestores desses fundos conhecem a expectativa de desembolso e projetam o fluxo de caixa a partir desses dados. Assim, ao adquirirem títulos públicos, pretendem “imunizar” o passivo, ajustando os vencimentos e rentabilidade dos papéis com a necessidade de pagamentos de benefícios aos participantes dos planos previdenciários. O objetivo é manter os títulos na carteira até o vencimento, recebendo os juros previstos.

A Anapar se posiciona contra a obrigatoriedade de os fundos de pensão marcarem os ativos a mercado, conforme determinado pela Resolução CNPC 43/21. Marcel Barros, presidente da entidade, argumenta que essa medida traz incerteza e volatilidade aos investimentos de renda fixa, algo desnecessário e desaconselhável para as entidades fechadas de previdência complementar.

“Em vez de buscar soluções para a volatilidade, os técnicos do governo propõem uma medida ainda mais controversa: marcar o passivo a mercado. Isso significa que os participantes de planos BD, que formaram suas poupanças com o objetivo de receber um valor mensal na aposentadoria, atualizado por um índice de inflação pré-definido, terão que se sujeitar às flutuações do mercado”, salienta Barros.

A proposta do Ministério da Fazenda é que o montante devido aos participantes não seja mais corrigido pela inflação e uma taxa atuarial, mas transformado em cotas, que serão atualizadas pelo valor dos papéis no mercado. O participante deixaria de ter um benefício definido e passaria a ter uma quantidade de quotas, como em um fundo de renda fixa, assumindo todo o risco de mercado.

A Anapar critica o governo federal por não buscar soluções para resolver o problema de solvência das entidades, criado por normas inadequadas como a Resolução CNPC 30/18. A entidade sugere a atualização do Decreto 4942/2003, que regula as sanções e penas no sistema, e a revisão da Resolução CMN 4994/2022, permitindo a volta dos investimentos em imóveis.

Para a Anapar, o governo prefere manter propostas derrotadas nas urnas em 2022 e trazer alternativas que dialogam com a “harmonização entre abertas e fechadas”, defendida pelos setores do mercado financeiro, deixando o risco e prejuízos para os participantes.

Os tecnocratas governamentais argumentam que essa prática existe em outros países, como o Canadá. No entanto, omitem que lá a responsabilidade por eventual déficit é toda do patrocinador, demonstrando, segundo a Anapar, falta de compromisso com a sociedade civil e submissão aos ditames do mercado financeiro.

Diante dessas propostas, a Anapar se posiciona fortemente contra as iniciativas de marcação a mercado, clamando pelo cumprimento dos contratos previdenciários e pelo fortalecimento do sistema de previdência complementar fechado.

Outras notícias

STJ reconhece direito de deduzir do Imposto de Renda as contribuições extraordinárias à previdência complementar

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, ontem, 12/11, que as contribuições extraordinárias pagas pelos participantes de planos de previdência…
Leia mais

Anapar defende protagonismo dos trabalhadores na gestão da previdência complementar em encontro da Frente Parlamentar em BH

Nesta quinta-feira, 6 de novembro, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi palco do encontro regional da Frente Parlamentar Mista…
Leia mais

Anapar participa de reunião na SEST sobre incorporação ao Novo Plano da Funcef

O vice-presidente da Anapar, Dionísio Reis, participou de uma reunião na Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST),…
Leia mais

Painel PREVIC Cidadão fortalece a transparência das informações sobre os planos de previdência complementar

Com Ascom Previc A criação do Painel PREVIC Cidadão representa um avanço importante para o fortalecimento da transparência e do…
Leia mais